A nuvem negra vai passar
O tempo fechou. De repente olho para a imensidão do céu e só vejo nuvens negras. É o prenúncio de uma grande tempestade. Parece que toda a natureza pressente que vem aí um temporal. Tudo se aquieta. O ar parece nem se mexer. Os animais procuram abrigo. Os pássaros se aninham em seus ninhos. Não vejo nem as borboletas rodopiando em torno das flores.
O tempo está acinzentado, e cheio de saudade.
As nuvens começam a chorar as primeiras gotas de chuva. O cheiro de terra molhada rescende da terra. Cheiro bom, cheiro que me reporta à infância... Cheiro de cabaninha de lençóis e bacias de pipoca para não sair na chuva . Cheiro de mamãe. Viajo através do tempo no trem da saudade e vejo pela janela do sonho as imagens dos tempos idos passarem. Amigos, colegas de escola, pessoas queridas que contribuíram para fazer de mim quem sou.
Lá fora chove torrencialmente. Os raios cruzam os céus, clareando as nuvens negras. Os trovões ribombam estremecendo a terra. O barulho da água caindo do telhado assemelha-se ao som de uma cachoeira.
Estava tão absorta em minha viagem pelo tempo que nem percebia o barulho da chuva. Olhei pela janela e me assustei. Parecia o dilúvio. As flores e as árvores balançadas pelo vento eram figuras diáfanas embaçadas pelas águas. Não conseguia visualizar mais nada. Parecia que o céu havia se encontrado com a terra. Era assustador.
Sentei-me em uma cadeira e novamente me deixei levar pelas lembranças. Muitas vezes, em dias de chuva, nossa família reunia-se no quarto, minha irmã pegava o violão e cantávamos louvores a Deus. Cantávamos até não ter mais voz para cantar. Minha mãe sugeria os hinos e fazíamos duetos. Tempo bom...
Não sei quanto tempo durou a tempestade, mas durou tempo suficiente para reviver o que verdadeiramente nos faz fortes. As raízes que não permitem que a tempestade nos abata. A seiva que nos faz rejuvenescer e recuperar o vigor . Assim como as plantas reverdecem depois de uma tempestade, também nós nos revigoramos depois dos revezes da vida.
Olhei novamente pela janela: as nuvens negras tinham passado, umas gotas de chuva ainda teimavam em cair. As árvores e flores pareciam sorrir para mim. O som da vida borbulhante começava a tomar o lugar do barulho da chuva: pássaros bebendo água nas poças que se formaram; borboletas multicoloridas buscavam o pólen das flores. Tudo parecia mais bonito do que antes. É o milagre da vida.
Levantei os olhos para o céu e lá estava o arco-íris com suas cores alegres, enfeitando o céu. O símbolo da aliança de Deus com os homens sinalizava para a esperança.
As nuvens negras passam, porque Deus é fiel.